Se antes as mulheres já sofriam com jornadas triplas de trabalho por assumirem os afazeres domésticos e cuidados com os filhos, agora, no cenário atual de pandemia de Covid-19, a desigualdade de gênero se tornou ainda mais evidenciada. Segundo a pesquisa **Outras Formas de Trabalho**, divulgada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam duas vezes mais o tempo com o trabalho doméstico do que os homens. Com o confinamento e o home office, o desequilíbrio na divisão de tarefas se ampliou, resultando em mulheres cada vez mais sobrecarregadas.

Para tratar sobre desigualdade de gênero, a *webinar* **Mercado de trabalho: a mulher em tempos de Covid-19** foi ao ar no dia 14.09.20, pelo Univirtus. O evento foi mediado pela professora Patricia Carla Ferreira, coordenadora de cursos de pós-graduação da área de Educação, e contou com a presença da professora e advogada Ana Paula Oliveira, vice-presidente do Instituto de Defesa da Mulher no Mercado de Trabalho do Brasil, e a professora Tiemi Saito, do curso de [Direito](https://www.uninter.com/graduacao-presencial/curso-direito/?utm_source=uninter-noticias&utm_medium=referral) da **Uninter**.

Segundo Patricia, mais de 7 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho desde o início da pandemia. Ela destaca que apesar de historicamente a mulher ser essencial ao mercado de trabalho, a desigualdade sempre perdurou: “Com efeitos que transcendem os desafios relacionados à emergência da saúde pública, a pandemia de Covid-19 atinge a economia, a política, os direitos e, principalmente, as relações de trabalho, escancarando a desigualdade de gênero que muitas vezes é encoberta pelo conformismo”, aponta.

A professora Tiemi ressalta que existe um contexto histórico que condiciona a mulher na posição de submissão: “Quando nós vimos ao mundo [as mulheres], a gente já surge dentro de um paradigma, uma condição que foi estabelecida para a mulher dentro da sociedade, que não é de hoje ou do século passado, mas desde a antiguidade. Essa construção que se fez ao longo da história reflete atualmente nessa reconquista pelo nosso espaço”, afirma.

Já Ana aponta que as mulheres foram apagadas da história. “Nos contam que apenas os homens eram provedores na sociedade e que as mulheres só tinham a função de ficar em casa e cuidar dos filhos”. Ela argumenta que isso não é verdade, e cita a obra de Jorge Caldeira, que fala sobre o Brasil no período colonial: “O autor usa um capítulo para falar sobre o papel da mulher e sua importância nesse período. Ele conta que a mulher cuidava das negociações do comércio e também do plantio. Além disso, a mulher exercia atividade política, mesmo não podendo ocupar cargos políticos. As mulheres faziam pressão nas autoridades para que elas conseguissem o que almejavam. O autor traz esse ponto de vista muito interessante, já que não é dito e ensinado às mulheres que elas exerceram um papel essencial na história”, completa a professora.

Tiemi enfatiza que hoje, apesar das mulheres ocuparem vários espaços na sociedade, ainda são poucas que atuam em cargos de liderança. “Por mais que a mulher atue no mercado de trabalho, ela está na parte mais rasa. Isso se chama segregação vertical, no qual as estruturas sociais não permitem que ela chegue ao topo. São raras as exceções de mulheres em cargos de liderança”, argumenta.

Ana salienta que mesmo quando mulheres estão em cargos de autoridade, sofrem questionamentos e preconceito. Ela cita a própria experiência na posição de advogada, quando foi fazer a defesa de um acusado no tribunal: “Já aconteceu comigo no meu primeiro júri. Uma parente de um acusado me perguntou se eu que iria fazer a defesa. E questionou se era melhor chamar um homem, porque homens têm a voz mais firme e mais forte”, lamentou a advogada.

Ao final, as professoras fizeram um apelo para que as pessoas tenham mais respeito e menos julgamento. É necessário quebrar paradigmas e estereótipos de gênero. Tiemi argumenta que “essa pandemia escancarou a realidade da mulher brasileira e da mulher no mundo, que desempenha várias funções trabalhando, cuidando da casa, dos filhos e cozinhando. É preciso mudar isso educando os nossos filhos. Temos que criar consciência e criar um novo paradigma que seja de igualdade”. A professora ressalta que temos que emponderar as próximas gerações: “Se um menino que ser cozinheiro, deixe que seja; se uma menina quer ser mecânica, encoraje ela também”, afirma.

Além dos paradigmas de gênero, as professoras também debateram outras questões que afetam as mulheres no ambiente de trabalho, como o assédio sexual, maternidade e racismo. Para assistir à webinar completa, os estudantes da Uninter devem acessar o Univirtus, clicar no link ‘ao vivo’ e digitar o título no campo de busca: Mercado de trabalho: a mulher em tempos de Covid-19.

Kethlyn Saibert

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Pandemia agrava desigualdade de gênero no mercado de trabalho